Cheguei há pouco de uma das noites mais fantásticas da minha vida. a estreia correu lindamente. Não me esqueci de nenhuma fala, não me enganei em nenhuma marcação e não estive nervosa... Diverti-me muito, saboreei cada palavra, interagi com os meus colegas e foi lindo, lindo, lindo!!!!
"Hoje era o dia de alcançar
tudo o que tinha sonhado"
É amanhã que a "Astrudes" entra em cena. "Astrudes ou o Guarda-Chuva dos Sonhos" é um espectáculo teatral que estreia amanhã no Auditório do Instituto da Juventude de Aveiro e conta como actriz aquela que aqui vos escreve. Pois é, vou-me estrear no teatro. Só espero que os nervos não me perturbem porque amanhã é a sério. Mas vou tentar fazer o que tenho feito em todos os ensaios: divertir-me muito.
Depois conto-vos como correu.
Como vêem não fui capaz de vos deixar muito tempo sem as minha impressões... Dois acontecimentos obrigaram-me a isso como vão poder ler em seguida. Aqui ficam, então, as impressões sobre a semana transacta.
Impressões sócio-políticas
Anda na ordem do dia e tem ocupado os telejornais nas últimas semanas. A decisão do encerramento de algumas maternidades provocou uma onda de contestação que, a meu ver, ainda deveria ser mais forte. Sinceramente não consigo entender esta política que parece estar a contribuir cada vez mais para a desertificação do país. Fecham-se maternidades, fecham-se escolas... por alguma razão será que já se tem de recorrer a estrangeiros para virem habitar as nossas terras do interior.
Ainda com contornos pouco claros, tivémos ontem a notícia de uma criança de 12 anos que foi encontrada morta com sinais de grande violência. A criança tinha sido retirada da família por esta revelar negligência, mesmo assim os serviços sociais decidiram autorizar que esta fosse entregue à mãe, a pretexto de uma consulta. Alegam os serviços de que se tratou de um crime que não podia ser previsto, que nada indicava que a criança pudesse sofrer tal fim. Mas, pergunto eu: se a família se mostrava negligente em alguns aspectos, não se poderia pensar que fosse noutros? E não me atrevo a fazer mais perguntas por enquanto, porque me palpita que as respostas não serão nada bonitas...
Impressões musicais
Saí ontem à noite apenas para tomar um café. Como tinha sido inaugurada uma nova ponte pedonal circulatória aqui em Aveiro (magnífica obra de arquitectura, a meu ver), fui vê-la e, de repente, ouvi os acordes de "Who Wants to live forever", uma das músicas que tem o condão de me arrepiar. Segui as pegadas da música e encontrei-a no Rossio a brotar dos instrumentos musicais da Banda Amizade, uma banda filarmónica aveirense que só conhecia pelo reportório clássico e por tocar nas procissões. Lembrei-me então de ter visto o anúncio no jornal de um concerto intitulado "A banda também canta". Seguiu-se um arranjo magnífico e uma voz espectacular a entoar "Music was my first love" e o extase da noite "Nessun dorma" que quase me atordoou, derrotando-me por completo. E terminou com a voz de Vitor Almeida e Silva, terrivelmente evocadora de José Afonso, num medley dedicado a este grande músico nascido em Aveiro.
Um espectáculo muito bom a merecer uma sala de espectáculos melhor com um público que estivesse ali apenas para fruir a música e não apenas a fazer horas para se ir embebedar nos bares da praça, como era o caso de alguns jovens que a dada altura decidiram contaminar ligeiramente o ambiente.
Impressões Literárias
Por razões profissionais, ando a ler e a estudar a poesia de Sophia de Mello Breyner e a rever Memorial do Convento. Por razões diferentes estou a gostar de (re)descobrir Sophia e a amar o reencontro com o Memorial de Saramago.
Esta tem sido uma daquelas semanas repletas de trabalho. Agora, quase no final do ano lectivo, surgiram-me mais alunos para dar explicações que exigem muito de mim. Depois, está também a aproximar-se a data do espectáculo: há ainda muito texto para preparar, além da indumentária. Depois, para além da preparação normal das aulas, estou a pôr em acção um projecto que tenho vindo a desenvolver com os alunos: a criação de um blog sobre livros. ainda está no início, estou à espera que eles façam uma imagem para o blog, mas já existe: http://leituras2006.blogs.sapo.pt
A isto acrescente-se o trabalho de mestrado a que resolvi finalmente dar continuidade e que me exige tempo para ler e escrever.
Tudo isto para dizer que não tenho tempo para registar as minhas impressões, por isso, é possível que o blog tenha de ficar parado por uns tempos. Assim que me for possível irei retomar, vai depender da necessidade de deixar aqui impressões e ideias.
Desde criança que ganhei o hábito de oferecer neste dia algo que fosse feito por mim: cartões, poemas, albuns de fotografias, bordados a ponto cruz foram algumas das prendas que lhe ofereci ao longo dos tempos. Nunca me considerei particularmente habilidosa, sou mais do tipo trapalhona mas com boas intenções, e lá foram saindo algumas coisas mais ou menos apresentáveis. Este ano recuperei a tradição: aprendi uma técnica de pintura e uma de découpage e, depois de um sábado agarrada às tintas, sairam estas caixas que aqui vêem. A mais pequena ofereci à minha avó, a do chá dei à minha mãe.
A todos os que lêem estas minhas impressões quero anunciar que hoje descobri que estou apaixonada e que sou amplamente correspondida, pela primeira vez.
Sim, estou apaixonada.... pela vida e ela tem correspondido a essa paixão.
Amo-a sofregamente porque a sinto em cada poro da minha pele, a pulsar em cada gota de sangue que percorre o meu corpo, a penetrar-me em cada molécula de oxigénio que respiro.
Amo-a intensamente porque a admiro por cada papoila vermelha que grita rubra ao sol, por cada sorriso de criança, por cada animal que brinca na rua, pelo mar, pelos rios e regatos, pelos montes de sal da minha ria, pelos campos verdes, pelos rochedos e penedios, pelos risos, pela alegria.
Amo-a profundamente pelos aromas da Primavera, pelo cheiro do café torrado, dos livros e da terra molhada; pelo canto dos pássaros e todas as melodias do mundo; pelos poetas; pelas palavras e pelo silêncio.
Amo-a pelas pessoas que me acolhem, pelas pessoas que me dizem "tem cuidado", pelas pessoas que me sorriem, pelas pessoas que me tocam dentro e fora de mim.
Amo-a e sei que este amor tem agora condições de durar para sempre, porque estou consciente de que na nossa relação sempre haverá pedras e buracos a perturbar o nosso caminho, mas também sei que nos saberemos desviar deles e iremos descobrir sempre que nos amamos.
No sábado encontrei um dos meus primeiros alunos. A cara reconheci logo, depois fui obrigada a fazer um exercício de memória até chegar até ele. Recuei cerca de seis anos no tempo e lembrei-me daquela turma de 9.º ano e daquele aluno, o primeiro e até agora único, ao qual fui obrigada a dar um nível 1. Quis que ele recuperasse e ofereci-me para lhe dar aulas de apoio. Tivémos creio que apenas duas aulas. Passado pouco tempo, ele desistiu de estudar. Na altura já tinha 19 anos. Encontrei-o a trabalhar num café/ bar, disse-me que em breve ia partir para a Madeira e trabalhar na área da restauração. Achei piada ao facto de hesitar no modo de tratamento, afinal separam-nos apenas 3 anos, mas durante o tempo em que fui professora dele sempre me tratou com respeito e nunca questionou, ao contrário de outros, a minha autoridade.
Hoje encontrei outro ex-aluno. Foi meu aluno no ano passado. Notei logo a alteração física - está mais alto - mas a grande diferença que senti foi quando lhe ouvi a voz: já não era a voz de menino, era uma voz a tender para o grave, a querer tornar-se homem.
Os meus primeiros alunos são já todos considerados adultos. Sei que há alguns que em breve serão enfermeiros, advogados... E quando os encontro tenho a grande alegria de recordar o passado e olhar o futuro, porque um dia partilhámos um presente.
O Inverno foi longo
O frio
A chuva
O vento
A tempestade
O revolver das águas
O agitar da íntima natureza
O calor artificial dos sentimentos iludidos
A negra escuridão do interior céu
Pareciam não ter fim
Num interminável e longo Inverno
Mas a Primavera surgiu enfim
Os céus abriram-se
A cor ganhou a luta com o negro
E ela renasceu
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Outras impressões