Cheguei à conclusão de que sou uma artista apenas de espírito. Imagino obras de arte mas depois falta-me o talento para as concretizar. Às vezes é um pouco frustrante porque sinto as ideias gritarem dentro de mim, desejando que outros as conheçam, mas eu não lhes consigo abrir a porta para que elas vejam a luz do dia e, assim, entram em estado de coma ou acabam mesmo por morrer. As minhas mãos parecem ser incapazes de responder convenientemente ao comando do meu cérebro: imagino quadros que não sei pintar, tiro fotos com os olhos que não consigo captar com a máquina fotográfica, esculpo imagens que não conseguem sair do barro, imagino músicas que não sei tocar com notas que a minha voz não atinge, projecto interpretações teatrais magníficas que não surgem na hora em que piso o palco, imagino-me dançando mas os meus pés nunca correspondem, crio romances que não sou capaz de escrever e poemas que nascem e desaparecem sem que tenha tempo de os registar.
E a minha arte acaba por viver dentro de mim. Só nos sonhos sou artista e sei que o sou porque olho para o mundo e vejo algo mais do que o visível. Resta-me admirar os outros e acreditar que um dia tudo aquilo que crio saia exactamente como viveu dentro de mim.