Sexta-feira, 30 de Setembro de 2005
#1# Rigor vs. "vamos ensinar-te a contornar o sistema"
Nos últimos dias fui obrigada a ter de tratar de alguns assuntos de carácter burocrático. Para além da questão do tempo que se perde à espera de se ser atendido, por uma mera formalidade, é interessante verificar como o modo de atendimento e as informações variam de funcionário para funcionário.
Na secretaria da minha escola, fui atendida por uma funcionária que defendia categoricamente a lei, enquanto por trás outras funcionárias me piscavam o olho e me cochichavam para não apresentar nenhum requerimento...
Numa outra repartição, depois de um funcionário me ter informado mal acerca da data de entrega de um requerimento, uma outra funcionária esclareceu que devia entregar o pedido até hoje. Experiente, disse logo que não iria conseguir que todas as pessoas envolvidas no processo (tem de levar mais 2 assinaturas além da minha) assinassem os papéis de modo a conseguir entregar o requerimento dentro do prazo, por isso explicou-me que teria de pedir que os papéis chegassem aos serviços através de correio interno, porque assim fariam de conta que tinha havido um atraso nas assinaturas. Ou seja, se eu fosse lá entregar o papel para a semana, não o aceitavam, indo por correio interno dos serviços, já podia ser aceite.
É curioso como o sistema burocrático tem formas de ludibriar o seu sistema através da sua própria burocracia.
#2# O acidente e a participação
Só na segunda-feira tive o auto da polícia que me permitiu participar no meu seguro o acidente. Preenchi um longo formulário, tive de desenhar um mapa com a descrição da ocorrência, fazer novamente a descrição escrita do sinistro. Pensei que o meu trabalho estaria feito, enganei-me. No dia seguinte (para grande admiração minha) fui contactada por um perito da companhia de seguros. Fiquei surpreendida com a rapidez com que o caso foi tratado, afinal tinha feito a participação às 4 da tarde do dia anterior, e às 9.50 do dia seguinte verifiquei que tinham ligado para o meu telemovel de um número que vim a descobrir pertencer ao perito. Para azar do senho ligou-me no dia em que mais trabalho tenho de toda a semana e não me conseguindo contactar por telefone, ainda se deslocou (em vão) à minha casa deixando o contacto, e teve o cuidado de me ligar à noite para marcar encontro na manhã seguinte.
Mais uma vez lá tive de fazer a descrição do acidente, dar os meus dados pessoais e os dados do veículo... enfim preencher mais papéis...
Pergunto-me porque raio neste país há necessidade de se preencher tanto papel? Arrepiam-me aquelas imagens dos tribunais de escritórios forrados de processos, de papel por todos os lados e pergunto-me: para quê tanto papel? Para que precisei de escrever 3 vezes uma coisa que já estava escrita há imenso tempo? Porque se perde tanto tempo com o preenchimento de impressos?
Enfim... nem todos podemos viver na Jamaica e ter tempo para inventar bebidas... ou outra coisa qualquer.
Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005
Добрый вечер, рад вас видеть. Meня зовут Паула. Как вас зовут? Увидимся.
Perceberam? Não? Então vão estudar russo...
Sábado, 24 de Setembro de 2005
Foi difícil voltar a conduzir o meu carro, mas consegui fazê-lo. Interiormente tremia e temia nem sabia bem o quê. Suponho que seja uma reacção normal tendo em conta o que aconteceu. Teria sido mais fácil, por exemplo, voltar a encerrar-me em casa e recusar-me a voltar colocar-me ao comando de um veiculo, mas sei que não seria solução. Os acidentes são daquelas coisas que procuramos evitar a todo o custo, mas às vezes não o conseguimos fazer. Sei, no entanto, que este me ensinou muita coisa, mas não vou ficar com medo de que possa acontecer de novo, vou é esforçar-me por ser mais prudente e, sem dúvida, nunca mais confiar em espelhos.
Quinta-feira, 22 de Setembro de 2005
Ontem tive um acidente. Um cruzamento com má visibilidade, um espelho a fornecer más indicações, uma ilusão de óptica, um golpe de sol, uma entrada pouco prudente, uma senhora que seguia de moto a alta velocidade e bate no pneu do meu carro, uma queda aparatosa, um a mulher sentada no chão queixando-se de várias dores, muita gente acorrendo ao local dando vários palpites, uma ambulância que chegou com celeridade mas pareceu demorar horas, um polícia simpático a registar a ocorrência, muita gente à volta a ver a desgraça dos outros muito depois da ambulância partir, sopro no balão (0,0), medições na estrada, ligações para o hospital infrutíferas, descoberta do número de telefone, ferimentos ligeiros e dores, estragos no motociclo, automóvel ileso, condutora abalada.
É assim que me surge na mente a memória do acidente. Ainda não consigo reflectir a sério sobre o que aconteceu, dificilmente conseguirei chegar a uma conclusão clara sobre o motivo por que avancei e não me apercebi da scooter. Dizem que são coisas que acontecem, mas é difícil constatarmos de que podemos ser os causadores de ferimentos noutra pessoa, de danos físicos que podem mesmo ser fatais.
Sei que a vida é um risco permanente, as estradas estão cheias de perigos, contaram-me, aliás, que naquele lugar já se deram acidentes com consequências muito graves, mas isso não me tranquiliza. Aconteceu... acontece... não acontece só aos outros, mas eu dava tudo para que ontem eu não tivesse sido um dos outros...
Segunda-feira, 19 de Setembro de 2005
A primeira impressão que tive dos meus alunos foi positiva. Não houve miúdos com atitude desafiadora, não houve delinquentes a entrar pela sala de aula aos rebolões, não houve desordem, não houve palavrões, não houve reclamações por trabalharem no primeiro dia de aulas. Apenas miúdos normais, com olhar curioso, algum burburinho quando inactivos, confusos com o horário, com medo de participar...
Veremos que outras impressões eles me irão provocar...
Recebi hoje um presente de aniversário muito especial. Disse bem, recebi, porque foi algo que penetrou no meu interior... no interior da minha pele. Uma clínica ofereceu-me um tratatamento corporal. Massagens, envolvimentos... senti-me uma semi-deusa. Pena não fazer anos todos os dias para receber mais presentes destes! Pena o meu salário não me permitir experimentar destes luxos quotidianamente!
Mas para quem estiver em melhores condições fnanceiras ou quiser oferecer-se um presente bem merecido deixo-vos o link da clínica... Eles não me pediram nenhuma publicidade, mas como gosto de retribuir uma gentileza...
Sábado, 17 de Setembro de 2005
#1#
Ainda não sei o que me custa mais, se deitar-me cedo, se levantar-me cedo. O corpo demora a deixar os maus hábitos das férias e o cérebro não está preparado para ir descansar cedo. Mas no dia seguinte... bem, já dizia António Variações «Quando a cabeça não tem juizo o corpo é que paga» eu acrescentaria que pagam o corpo e a cabeça pelos erros de ambos.
#2#
É curioso como instantaneamente simpatizamos com algumas pessoas e como, da mesma forma, antipatizamos com outras. Não acredito propriamente em vidas passadas e almas que se reencontram, mas é estranho que sintamos uma empatia ou uma antipatia imediata em relação a alguém que acabamos de conhecer. Às vezes as circunstâncias acabam por mudar a opinião inicial, no caso da antipatia acabamos por ver os pontos positivos dessa pessoa e conseguimos estabelecer uma relação de convivência saudável; por outro lado, descobrimos o lado negativo da pessoa com quem simpatizámos instantaneamente, mas raramente isso altera o facto de gostarmos dela. Quando se gosta de alguém aceitam-se os pequenos defeitos que nos irritariam numa outra pessoa.
#3#
Não sei onde li ou onde ouvi, mas cada vez mais estou convencida que por muitos anos que convivamos com alguém nunca vamos conhecer essa pessoa totalmente. Como poderia isso acontecer? Se a cada dia nos deparamos com situações novas e nunca poderemos prever a nossa reacção perante elas. Dizer "eu nunca faria isso" soa a uma expressão falsa, porque, na verdade, em determinado momento acabamos por fazer aquilo que afirmámos que nunca seríamos capazes de fazer.
#4#
Porque raio coisas que fazemos bem diariamente nos correm mal quando somos observados ou quando as temos de apresentar em público?
#5#
A arte do improviso é admirável! Estar perante um público a apresentar algo de que não se conhece o conteúdo e no meio de tudo isso termos de nos mostrar seguros do que estamos a dizer, também me parece algo digno de mérito.
#6#
É curioso como podemos viver durante anos numa casa e depois apercebermo-nos de que não é realmente nossa, quando não sabemos o lugar de certas coisas.
Segunda-feira, 12 de Setembro de 2005
Dois dias à espera que a secretaria da escola se dignasse a passar-me uma declaração, uma hora e meia (ainda assim não foi muito) à espera de ser atendida na repartição da Segurança Social da loja do Cidadão, um sindicato e uma circular da DGAE (repartição do Ministério da Educação) atestando o meu direito ao subsídio de desemprego parcial, uma lei da Segurança Social onde se afirma justamente o contrário... tudo porque neste país lembram-se de dar direitos aos professores, mas esquecem-se de alterar leis. Desabafo (amanhã vou-me arrepender de o escrever hoje): mais valia não ter sido colocada!
Domingo, 11 de Setembro de 2005
Sinto o Outono impregnar-se na minha pele...
Nunca tinha estado tão próxima de um dos meus tios e da sua familia como agora. Uma coisa é irmos de visita dois ou três dias ou eles visitarem-nos a nós, outra é passarmos alguns dias em casa deles, vermos o modo de funcionar em família, assistirmos ao seu quotidiano.
Só tenho dois tios, irmãos do meu pai, ambos tiveram dois filhos, ambos são GNR, ambos têm um ambiente familiar propenso a discussões quotidianas. Numa casa há um silêncio aterrador às horas da refeição depois de anos de conflitos, na outra há discussões, reclamações.
Como pareço ter o dom da invisibilidade ou me consideram insignificante para se preocuparem com o que os meus sentidos captam (quando os meus pais estão também presentes nunca há cenas dessas) fico ali a servir de testemunha de uma coisa triste: a falta de diálogo. É nessas alturas em que regresso a casa com uma vontade imensa de abraçar os meus pais.