Domingo, 12 de Fevereiro de 2006
Dizem que o trabalho dignifica o homem. Sem dúvida que tal é verdade. O problema é quando o trabalho não oferece as condições para que essa dignidade humana se instale.
Toda a gente já deve ter ouvido falar do problema dos emigrantes que vão para a Holanda trabalhar e são sujeitos a uma situação de quase escravidão, vivendo em condições miseráveis, tudo porque quiseram procurar uma vida melhor ou garantir a sua subsistência. Mas a exploração do trabalhador não se resume ao problema da emigração: são muitos os locais onde o trabalho não respeita o homem.
Por exemplo, sei de alguém que se dedica de corpo e, posso mesmo dizer, alma ao trabalho que executa. Todos os dias cumpre mais de 10 horas de trabalho, sem que lhe paguem qualquer hora extraordinária, sem receber qualquer compensação que seja ou uma mera palavra de agradecimento. Há trabalho para fazer e essa pessoa tem de o executar, porque se não o fizer é repreendida por tal e ninguém se importa que ela tenha a seu cargo o trabalho de duas pessoas. E mesmo depois de deixar o local de trabalho, este persegue-a, vem muitas vezes preso à sua pele, entranhando-se no seu cérebro quase ao ponto de ser a única ideia que a assola.
Outra pessoa que também me é muito chegada, vive uma situação laboral muito complicada há pouco mais de um ano. Depois de ter estado um longo período desempregada, surgiu-lhe um emprego no qual depositou todas as suas esperanças. No entanto, foi confrontada com um ambiente de trabalho hostil, tudo porque uma colega a via como uma ameaça. O tempo foi passando e as coisas não foram melhorando. Tentou escapar, tenta escapar mas vivendo numa zona onde o trabalho escasseia, ainda não encontrou uma porta de saída. E o trabalho, que lhe garante a subsistência, vai minando-a aos poucos, vai-lhe corroendo a vontade de viver.
Podemos perguntarmo-nos porque não deixam estas pessoas o emprego que tanto mal lhes faz. Mas se estivéssemos nas suas peles entenderíamos que não é fácil, que apesar de mau aquele trabalho lhes oferece um mínimo de garantia de sobrevivência, e a falta de alternativas ou o pensar que elas não existem, vão criando uma espécie de polvo cujos tentáculos se tornam cada vez mais fortes e atrofiantes, ao ponto de, de certa maneira, as encarcerarem numa prisão.