Imaginem que iam na rua e um indivíduo vos roubava a carteira por esticão. Imaginem o incómodo: cancelar cartões multibanco, cheques, pedir segundas vias de documentos. Agora imaginem que se dirigem à Conservatória do Registo Civil e não vos passam outro Bilhete de Identidade.
Este é o drama da Sylvie, uma mulher de 30 anos, filha de uma portuguesa, com avós portugueses que desde que se conhece vive em Portugal, mas teve o azar de nascer na França, dos pais se terem casado na Sérvia e nunca terem transcrito o casamento em Portugal, da mãe ter falecido quando ela tinha poucos meses de idade e do pai a ter abandonado deixando-a ao cuidado dos avós maternos, sem nunca ter tratado de legalizar a existência da Sylvie.
Só quando chegou a altura de ingressar na escola primária é que o avô tratou das questões burocráticas. Com grandes dificuldades, conseguiu que ela tivesse uma certidão de nascimento na qual alguém carimbou ESTRANGEIRA, uma palavra que havia de condicionar a vida desta cidadã portuguesa para sempre.
Há seis anos que Sylvie luta para que a reconheçam como cidadã portuguesa. Há seis anos que Sylvie ficou impossibilitada de ter um passe social, de tirar a carta de condução, de ter um cartão de utente (quando sofre de uma doença crónica que lhe daria isenção no pagamento de taxas moderadoras), não pode abrir uma conta bancária, não pode alugar uma casa, não pode casar e está desempregada.
E depois nós vemos na nossa selecção um jogador de futebol a quem deram a cidadania portuguesa quase num estalar de dedos e outros casos semelhantes e a esta mulher roubaram a vida há seis anos.
Leia a história da Sylvie aqui: Identidade Desconhecida.
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